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  • Foto do escritorCarolina Ghilardi

Especialistas discutem o que são as "cidades inteligentes"

Atualizado: 30 de jun. de 2020


Por: Gustavo Queiroz e Carolina Ghilardi

Edição: Valsui Júnior


Do uso especializado de dados à construção da primeira cidade social e inteligente do mundo, o Brasil é também pioneiro no processo de adequação das novas tecnologias à realidade urbana. A versão brasileira da Smart City Expo 2018, evento global que pela primeira vez foi sediado em Curitiba, mostrou que diversos municípios no mundo já aplicam a inovação digital, a governança responsável e a tecnologia disruptiva, ou seja, que quebra padrões, em seus planejamentos urbanos.


“Inovar é colocar o cidadão no centro das políticas públicas, de modo que toda a informação levantada por ele seja utilizada no processo de planejamento e execução”, afirma Gustavo Maia, criador do aplicativo de participação cidadã “Colab”. A conferência também destacou as perspectivas de futuro e os desafios das iniciativas que envolvem a tecnologia e o setor público.


De acordo com o especialista em Estudos de Desenvolvimento, Juancho Merlo, a inovação é um processo de mudança sistêmica e as estratégias utilizadas hoje terão resultados cada vez mais intensos a curto, médio e longo prazo. “A transformação das relações entre cidadão e cidade leva tempo, mas a tecnologia está sendo usada a favor da democratização deste ambiente”, afirma.

Em painel apresentado no congresso, especialistas discutem democracia participativa e uso da internet – Foto: Michel Willian/Divulgação

Redes sociais para a cidadania

Especialistas entendem que as redes sociais, quando bem utilizadas, são a primeira ferramenta capaz de aproximar o cidadão do poder público. Um exemplo é o aplicativo Colab, disponível para Android e IOS. Eleito pela “News Cities Foundation” como o melhor aplicativo Urbano do mundo, o Colab pretende ser o principal instrumento de participação cidadã. “É uma rede social para a cidadania em que a contribuição é feita de forma estruturada. O cidadão coloca questões para as prefeituras e as prefeituras usam a mesma plataforma para consultar os cidadãos, como uma assembleia pública feita no ambiente virtual”, afirma Maia.


O usuário encontra um problema de qualquer ordem em seu caminho e publica no aplicativo, marcando a prefeitura responsável. A Inteligência Artificial identifica as publicações mais importantes e urgentes. Quanto mais pessoas denunciam a mesma situação, seja ela de transporte, infraestrutura, segurança ou saúde, a publicação aparece com mais força para a gestão urbana responder. A partir disso, a prefeitura dá um parecer e atualiza os usuários do andamento do processo, até que seja concluído.


A plataforma é mais que um canal de reclamações. Segundo Maia, diversas prefeituras já utilizam o aplicativo até mesmo para definir o orçamento da cidade. É o caso da Prefeitura de Santos, que disponibilizou uma consulta pública para definir o destino de R$ 10 milhões do orçamento. Os usuários escolheram para onde o dinheiro deveria ir. Cerca de 100 municípios fazem parte do sistema, como Niterói, Porto Alegre, Natal, Campinas e Curitiba. “Outro caso interessante foi o de Teresina, que planejou todo o plano diretor com consultas diretas à população através do aplicativo”, concluiu o fundador.



Quase 31% das reclamações feitas por curitibanos dizem respeito a estacionamentos irregulares – Fonte: Colab Divulgação

Uso de dados e democracia digital

O funcionamento de uma cidade, depende da operação precisa de seus sistemas. Para que isso aconteça, uma grande quantidade de dados e informações são gerados. Para o colombiano Juancho Merlo, que coordena o laboratório de inovação social Wonder.lab, a transparência, a colaboração e a participação cidadã, quando coordenadas pela inovação, vontade política e instituições fortes, são elementos essenciais para que dados coletados sejam bem aproveitados.


O Wonder Innovation Lab faz parte de uma série de iniciativas na américa latina que pretende desenhar “quick wins”, processos que aceleram a colaboração e a troca de conhecimento entre múltiplos agentes de impacto social. A ideia destes laboratórios é aproximar a sociedade civil, o governo e o setor privado para encontrar soluções inteligentes aos desafios urbanos, em especial através da análise e compartilhamento de dados.


No Brasil, o LabHacker e o Mobilab são referências neste processo. O primeiro, criado pela Resolução 49 de 2013, está inserido dentro da Câmara dos Deputados e articula parlamentares, hackers e sociedade civil a promover uma cultura de transparência por meio da gestão de dados públicos. Já o Laboratório de Mobilidade facilita soluções em tecnologia para a mobilidade urbana. Neste caso, os dados produzidos pela Secretaria de Transportes de São Paulo são compartilhados com uma rede de profissionais criativos da sociedade civil que auxiliam na análise e interpretação. É uma alternativa que promove maior qualidade na utilização de dados brutos e aproxima o setor público da tecnologia.


Este tipo de iniciativa pode surgir também do setor público. Um exemplo é o projeto A tu servicio, apresentado pela antropóloga e gerente de projetos da Fundação Corona, Mónica Villegas. O Ministério de Saúde Pública da Colômbia encontrou uma forma inteligente de disponibilizar todo e qualquer tipo de dado da saúde do país à população. “A plataforma permite uma efetividade na resposta governamental, retroalimentação e difusão de dados”, afirma Villegas. Desenvolvido dentro da Iniciativa Latinoamericana por Dados Abertos (ILDA), é um jeito de facilitar o acesso a dados abertos e aumentar a transparência governamental.


Segurança online

Gerenciar e manter estes dados seguros no ambiente digital é um dos maiores desafios deste tipo de proposta. Para a indiana, Tia Kansara, fundadora da Kansara Hackney, consultoria internacional que desenvolve soluções para problemas urbanos, o “Blockchain” pode ser a ferramenta mais adequada para garantir a segurança do sistema.


Blockchain é uma tecnologia aberta que surgiu em 2008 junto às moedas eletrônicas (Bitcoin). Funciona como uma grande plataforma digital que processa transações, registrando suas ações em uma rede de computadores. Desta forma, toda informação é armazenada em um conjunto de unidades, formando uma “corrente” e protegida por códigos criptografados. Por ser pública, pode ser auditada por qualquer pessoa.


Kansara acredita que esta é a melhor forma de se garantir uma armazenagem e transferência prática e segura de recursos financeiros e dados em geral. “Isto permite contratos inteligentes, pagamento auto gerenciado e tomada de decisão sem intermediários, como bancos e governos”, afirma a especialista. Além da segurança, Tia ressaltou que o Blockchain traz para as cidades inteligentes novos modelos econômicos, que aceleram os processos e tornam as relações digitais mais seguras. “As tecnologias são boas para nos conectar aos problemas e pensar soluções para ajudar as pessoas”, conclui.


Ainda que o Blockchain seja um sistema entendido como seguro, em dezembro do ano passado um ataque hacker roubou uma carteira de moedas eletrônicas avaliada à época em cerca de R$ 230 milhões da empresa eslovena NiceHash. A invasão gerou alterações mundiais nos valores de Biticoins.



Tia Kansara: Blockchain é a ferramenta mais segura para preservação de dados online – Foto: Divulgação


Uma nova cidade social e o Bairro da Gente

Outra proposta apresentada é uma alternativa aos atuais programas de reassentamento. O município de São Gonçalo do Amarante, no Ceará, receberá a primeira cidade social e inteligente do mundo. O projeto é desenvolvido pelo Planet Smart City, coordenado pela italiana Susanna Marchionni. A cidade foi planejada do zero e já está em fase de construção.


Todo o urbanismo foi pensado para valorizar o meio ambiente, a tecnologia e a inclusão social. A Smart City Laguna será completamente aberta e possuirá centros de formação e participação gratuitos às pessoas. A proposta pretende suprir o déficit habitacional da região e é acessível a baixo custo. Um lote de 150m2, por exemplo, custa cerca de R$ 30 mil. A cidade já está planejada para captar e compartilhar dados urbanos através dos chamados “mediadores inteligentes”.


Já o Bairro da Gente procura uma nova forma de entender a inovação. Surgiu da necessidade de posicionar um bairro ainda não existente, na cidade de Limeira, em São Paulo. Contudo, esta iniciativa procura criar alternativas a partir do design da cidade, antes mesmo do uso da tecnologia. O urbanista Iury Lima, criador do conceito do Bairro da Gente, entende que a cidade pode ser planejada para promover a sustentabilidade e a felicidade. “A infraestrutura deve servir às pessoas. Até o desenho urbano e o uso do espaço pode ser utilizado para prevenir o crime, antes mesmo do uso da tecnologia”, concluiu Iury.


Para conferir a reportagem no site original de publicação clique aqui.

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