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  • Foto do escritorCarolina Ghilardi

Coleção de livros infantis alerta crianças e pais sobre os perigos da tecnologia

Uma entrevista com a bibliotecária da UFPR que se tornou autora de livros sobre cyberbullying e vício digital


Por Carolina Ghilardi



“Praticamente tudo foi escrito pelo smartphone”. É o que conta a bibliotecária Rosilei Vilas Boas, ou Rosi, como é conhecida. Ela é funcionária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e escreveu uma coleção de quatro livros infantis sobre a relação das crianças com a tecnologia. Lançada em 2016, a série foi produzida em parceria com outras duas colegas: a jornalista Cassiana Pizaia e‎ a psicóloga Rima Awada Zahra.


A coleção “Crianças na Rede” é destinada às crianças e aos pais e aborda temas como os perigos da internet, cyberbullying e vício tecnológico. Recebeu esse nome por expressar todas as redes em que as crianças devem estar envolvidas – a rede escolar, familiar, de amigos e do bairro, não apenas a rede web. “Nós entendemos que é somente vivenciando todas essas redes que a criança vai conseguir se inserir na sociedade e ter um papel de protagonista”, explica Rosi.


Hoje, Rosi é bibliotecária no Setor de Ciências Biológicas da UFPR e carrega consigo a experiência de ter atuado em bibliotecas escolares e em sites na área de educação pelos últimos 30 anos. Além de contar sobre os livros e projetos, ela faz um alerta aos pais sobre os assédios a que as crianças estão suscetíveis na web.

Confira abaixo a entrevista realizada pelo Jornal Comunicação com a bibliotecária e escritora:


JC: Qual é o objetivo dos livros “Crianças na Rede”? O que vocês querem passar, tanto para as crianças quanto para os pais?

Rosi: Eu acredito que o livro trata de uma temática bem atual, sobre a que a sociedade anda discutindo e não consegue muita resposta. É difícil  segurar uma criança, discipliná-la para que ela vivencie tudo, ensinar que ela tem que brincar, andar de bicicleta, jogar futebol, passear, ir ao parque – além de usar a internet, joguinhos e tudo mais. As crianças têm que perceber que há muito mais coisas para fazer e que existe tempo para tudo. Então, a nossa ideia era mostrar, tanto para a criança, quanto para os educadores, para os pais e para a sociedade em geral, que dá para fazer tudo, que uma coisa não pode anular a outra, que uma constrói a outra. A formação da cidadania de uma pessoa tem que vir das diversas experiências.

JC: Você diz que a tecnologia tem o papel de integrar as pessoas e servir ao homem. É isso que você também quer mostrar para as crianças?

Rosi: Eu acho que toda tecnologia, todo aplicativo, tudo o que é descoberta e que tem um investimento humano deve servir ao homem, e não o contrário. Servir ao homem no sentido de contribuir para o seu desenvolvimento, para a sua saúde e para a sua educação.

JC: Vocês já perceberam algum resultado na percepção das crianças sobre o tema? Já tiveram algum relato de pai ou mãe?

Rosi: Eu me lembro de três experiências que eu tive. Vou falar da primeira, sobre os pais. Nós recebemos muito retorno deles. Nas palestras, percebi que as crianças se identificam muito com o “Superligado”. Com o “Palavras que voam”, que é do bullying e cyberbullying, também, para o bem e para o mal – quem sofre e quem pratica. Nas palestras em que eu falo sobre isso, sempre tem uma mãozinha tímida que levanta e me diz: “- Tia, fulano faz isso comigo”.  

Numa escola em que eu estive, foi detectado um problema seríssimo: uma criança passava pelo bullying em casa, pelo pai, porque era mais gordinha e o pai a tratava muito mal. Me toca essa menina, porque ela entendeu o que era o bullying, entendeu que ela estava sofrendo aquilo e que ninguém tem o direito de fazer isso.

O terceiro episódio me assustou muitíssimo e todas as vezes que ocorre, chama muita atenção de nós três, é o perigo na internet. Quando a gente fala sobre o “Floresta Misteriosa”, perguntamos assim: “Já teve alguma ocasião em que vocês estavam na rede,  tinha um bate papo e alguém perguntou se a mamãe estava por perto? Ou em qual escola você estuda? Quem te leva?”. Nós procuramos colocar diversas situações assim e sempre tem uma mãozinha levantada. Eles são muito pequenininhos para passar por isso. Esse assédio com as crianças por meio dos bate papos na internet é muito maior do que a gente imagina.



Os livros foram publicados pela Editora do Brasil com os títulos: Máquinas do tempo, Superligado, A floresta misteriosa e Palavras que voam (Foto/Arte: Editora do Brasil. Edição: Pablo Fernandes)

JC: Você já havia escrito livros antes?

Não! Quer dizer, se você me perguntar se já publiquei livros antes, não. Se eu já escrevi livros de literatura infantil antes, sim. Que não foram publicados.

JC: Sobre o que são esses livros que não foram publicados?

Rosi: Esses livros eram muito ligados ao que eu percebia no cotidiano da biblioteca escolar com crianças do Ensino Fundamental. Eram sobre a insegurança das crianças, o medo, o bullying e a timidez, por exemplo.

JC: O que te motivou a escrever a coleção “Crianças na Rede”?

Rosi: Eu trabalhei com tecnologia educacional durante 12 anos nos portais de educação, então já tinha essa temática na cabeça. Em um encontro casual, eu, a Rima e a Cassiana conversamos. A gente não sabia ao certo o tema, mas conversando achamos que uma coleção sobre tecnologia seria interessante, porque não havia muitas coleções e títulos aqui no Brasil e a gente conhecia bem o assunto. A Rima, porque atende muitas crianças e adolescentes já bastante viciadas em internet, eu vivenciava isso na escola e a Cassiana porque tem filhos pequenos.

JC: E como vocês escolheram os temas da coleção?

Rosi: Então, a gente tinha uns 20 livros prontos, com muitos outros temas juntos, mas a editora nos orientou de que nós podíamos não fundir dois livros em um, mas retratar também o assunto em um mesmo título. Desses 20, os quatros que foram publicados foram escolhidos pela editora.

JC: Vocês pretendem dar continuidade à coleção?

Rosi: Nós estamos em discussão, porque há um consenso entre nós três de que a temática da tecnologia não está esgotada. Mas, devido à geopolítica atual, a gente optou por fazer um livro sobre as crianças [refugiadas] que estão chegando no Brasil hoje, e que, portanto, farão parte da formação do povo brasileiro, assim como fizeram os japoneses, os negros, os italianos. E isso exige muita pesquisa, muitas entrevistas, então a continuidade da temática da tecnologia ficou para uma segunda discussão.  


Mariana é uma garota conectada que usa a internet para tirar suas dúvidas, até que, um dia, entrou em uma floresta gigante e se perdeu neste lugar cheio de novidades. Essa floresta é a internet. O livro “A floresta misteriosa” traz um alerta para pais que deixam seus filhos muito à vontade no uso do computador e sugere como lidar com situações ameaçadoras online.



“Máquinas do tempo” é sobre Gabriel e seu avô José, que têm a oportunidade de conversar sobre todas as tecnologias que cada um pôde experimentar na sua época. Eles descobrem que existe muita coisa em comum entre as novas tecnologias e as antigas. O livro retrata a evolução tecnológica e as facilidades que ela trouxe, cada qual de acordo com sua época.



Bruna é aluna nova na escola e começou a sofrer bullying pelos colegas por causa do seu cabelo. O que começou na escola foi para a internet e se tornou cyberbullying. Bruna precisa de ajuda, mas como é possível ajudá-la? “Palavras que voam” encontra um jeito sutil de abordar o cyberbullying e chamar a atenção dos pais para esse tipo de situação.



O livro “Superligado” conta a história de Pedro, um garoto que vive ligado em videogame, computador, celular e televisão, mas desligado das pessoas e do mundo à sua volta. O livro aborda os exageros no uso das tecnologias e a importância de se estabelecer limites para que a saúde, os comportamentos e os relacionamentos familiares e sociais não sejam prejudicados.


Para conferir a reportagem no site original de publicação clique aqui

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